28.12.05

Um dos argumentos mais populares no debate é o fatalismo

A aceitação social que se verifica para justificar maus resultados escolares em Matemática associando-os à “falta de jeito natural” proporciona um suporte demasiadamente usado como desculpabilização geral (Dinis, 2003:26). Um dos argumentos mais populares no debate é o fatalismo associado às características culturais dos portugueses, justificado pela “tradição”.

Esta “tradição” de insucesso terá a sua fundamentação pois já em 1871 Antero de Quental se lamentava do nosso atraso em Matemática na sua conferência Causas da decadência dos Povos Peninsulares:

Nos últimos dois séculos não produziu a Península um único homem superior, que se possa pôr ao lado dos grandes criadores da ciência moderna: não saiu da Península uma só das grandes descobertas intelectuais, que são a maior obra e a maior honra do espírito moderno. Durante 200 anos de fecunda elaboração, reforma a Europa culta as ciências antigas, cria seis ou sete ciências novas, a anatomia, a fisiologia, a química, a mecânica celeste, o cálculo diferencial, a crítica histórica, a geologia: aparecem os Newton, os Descartes, os Bacon, os Leibniz, os Harvey, os Buffon, os Ducange, os Lavoisier, os Vico - onde está, entre os nomes destes e dos outros verdadeiros heróis da epopeia do pensamento, um nome espanhol ou português? Que nome espanhol ou português se liga à descoberta duma grande lei científica, dum sistema, dum facto capital? A Europa culta engrandeceu-se, nobilitou-se, subiu sobretudo pela ciência: foi sobretudo pela falta de ciência que nós descemos, que nos degradámos, que nos anulámos.
http://www.mat.uc.pt/~jaimecs/hspm/X0029_capIV04.html

Sem comentários: