PÚBLICO, 08.11.2007, Sandra Silva Costa
Primeiro os aplausos: "Finalmente há dados que permitem fazer o diagnóstico dos alunos competência a competência e saber quais as áreas onde são bons ou maus". Depois a crítica: "É pena que os resultados não sejam públicos, para que toda a gente possa perceber por que é que a Associação de Professores de Português [APP] toma algumas posições."
No dia seguinte à divulgação dos resultados das provas de aferição dos 4.º e 6.º anos, a primeira coisa que Paulo Feytor Pinto, presidente da APP, faz questão de dizer é que os dados "não são nada surpreendentes". "Já tínhamos alertado para quase tudo o que ficou explícito agora", comenta. O que ficou explícito foi isto: o que os alunos do 4.º e do 6.º ano sabem fazer melhor é ler. E dentro da leitura lêem melhor textos literários do que não-literários, como, aliás, mostrou o estudo internacional PISA de 2001. "Por isso é que andámos há muito a defender que as aulas devem ter mais textos não-literários."
Por outro lado, as provas de aferição mostram que é "fraquíssima" a competência de escrita dos alunos e que parece haver uma perda do domínio de conceitos de gramática quando passam do 4.º para o 6.º ano. Porquê? Talvez por isto, interpreta Feytor Pinto: porque "há 30 anos que em Portugal há uma anarquia terminológica" - a APP é favorável à adopção da polémica TLEBS - e porque no 2.º ciclo "a quantidade e a complexidade dos conteúdos gramaticais aumenta enormemente".
Já Nuno Crato, da Sociedade Portuguesa de Matemática, começa por realçar que os resultados das provas "não são comparáveis de ano para ano", pelo que as leituras que delas se tiram têm de ser "cuidadosas". Feita a ressalva, nota que os problemas detectados na disciplina são os mesmos que os encontrados nos países que, nos últimos 20 anos, "introduziram reformas iguais à nossa". Um dado salta logo à vista: "As competências em números e cálculo não são suficientemente consolidadas no 1.º ciclo e não são reforçadas no 2.º ciclo".
"É preciso um ensino mais sistemático dos mecanismos do cálculo e dos números. O estilo de ensino que temos no país é mais fluido: despreza-se a memorização, os automatismos", analisa. Os alunos "aprendem o essencial dos números e cálculo, mas esquecem-se rapidamente", prossegue. E se no 6.º ano dão mostras de não saberem cálculo e saberem de álgebra e funções, a explicação é simples: estas são matérias mais aprofundadas neste ciclo de ensino - logo, estão "mais frescas" nas cabeças dos miúdos.
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